Política ao Vivo. Siga a gente no Instagram: @politicaaovivo
A possível candidatura do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), às eleições presidenciais de 2026 recoloca em debate um dilema recorrente na política brasileira: como transformar um capital eleitoral regional em viabilidade nacional. Sua trajetória recente evidencia tanto a força de sua posição no cenário estadual quanto as dificuldades de projetar essa influência para além das fronteiras paranaenses.
Reeleito em 2022 com 69,64% dos votos válidos — o maior percentual da história do estado —, Ratinho Júnior consolidou-se como liderança local. O Paraná, sexto maior colégio eleitoral do país, confere-lhe uma base relevante, mas insuficiente para garantir competitividade em uma eleição presidencial. Os dados das pesquisas Quaest e Atlas/Intel (setembro de 2025) indicam que, em um eventual confronto direto, Ratinho ainda perderia para o ex-presidente Lula, sinalizando a dificuldade de romper o círculo regional.
Sua tentativa de nacionalização no ambiente digital revela os limites dessa estratégia. Embora tenha conquistado mais de 50 mil novos seguidores no Instagram nos últimos 28 dias e apresentado taxa de engajamento superior à de Tarcísio de Freitas (3,2% contra 1,6%), a performance de suas postagens mais “meméticas” — como a versão “Ratinho Skywalker” — não teve aderência junto ao público, ocupando apenas a 48ª posição entre seus conteúdos mais engajados. Em contraste, os posts que melhor performaram permanecem ancorados em sua atuação como governador, centrados em obras, segurança e família.
Esse dado não é trivial. Como apontam autores como Pierre Bourdieu (1996), o campo político é estruturado por diferentes capitais — econômico, político, social e simbólico — que precisam ser convertidos em legitimidade nacional. Ratinho Júnior, apesar de bem posicionado na dimensão política (graças ao PSD, partido com forte capilaridade municipal, 15 senadores, 45 deputados federais e mais de 37 milhões de brasileiros sob sua gestão), ainda enfrenta déficit na dimensão simbólica: sua imagem é percebida como local, e sua narrativa nacional não encontra eco no eleitorado mais amplo.
Além disso, sua vinculação ao ex-presidente Jair Bolsonaro traz um paradoxo estratégico. De um lado, abre-lhe a possibilidade de herdar parcela significativa do eleitorado bolsonarista, crucial para chegar a um eventual segundo turno. De outro, agrega a rejeição de cerca de 60% do eleitorado, segundo levantamentos recentes, o que pode restringir seu espaço de crescimento no centro político.
O caso de Ratinho Júnior evidencia, portanto, um fenômeno recorrente na política brasileira: o “paradoxo da bolha”. Governadores com grande sucesso regional, ao tentarem projetar-se nacionalmente, descobrem que o capital político acumulado é insuficiente para dialogar com a diversidade do eleitorado nacional. Nesse sentido, sua trajetória pode ser interpretada como um teste para a resiliência do centro-direita em 2026 — um campo que, órfão de lideranças consensuais, ainda busca um nome capaz de unificar distintas correntes.
Se a história recente da política brasileira ensina algo, é que o êxito eleitoral em nível nacional exige mais do que redes sociais vibrantes ou votações estaduais expressivas. Exige, sobretudo, a capacidade de articular uma narrativa abrangente, capaz de ressignificar alianças e de dialogar com os múltiplos “Brasis” que compõem o eleitorado. Ratinho Júnior ainda não encontrou essa narrativa.
Yuri Almeida é professor, estrategista político e especialista em marketing eleitoral